E então, entediado, pegou sua bolsa e saiu da sala. Observou o horizonte pela janela do sexto andar por alguns instantes, enquanto tirava os óculos escuros da gola da camisa e os punha no rosto. Logo após, desceu.
Ao longo dos seis andares de degraus que descia - pois tinha claustrofobia e não gostava de elevadores - pensava em como seria sua vida dali a alguns anos, se seria programador, professor, artista gráfico ou, até mesmo, músico. Tudo muito confuso ainda.
Ao sair das escadas, olhou para a balconista, acenando com a cabeça, arrumou o cabelo e saiu do prédio.
Que estranho. No mínimo, incomum. A avenida, constantemente movimentada, à frente da sua escola estava silenciosa, como se todos os carros tivessem sumido. O único barulho presente, era o dos pés das pessoas que esperavam por algum ônibus na parada do outro lado da rua e o canto abafado de alguns poucos passarinhos que voavam por ali.
Aquele barulho... Que doce melodia! Não o do canto dos pássaros, mas o dos inconstantes passos na parada que, em momentos comuns, estaria caoticamente movimentada e barulhenta, com pessoas conversando, carros passando, ônibus parando e inúmeros passos apressados atrás destes. Mas naquele momento, era diferente, era algo agradável.
Seguiu rua abaixo, enquanto tentava reconhecer o som dos pássaros ou escutar o barulho de algum veículo que passasse por ali. Estava tudo tão calmo, que sentia-se seguro até em cruzar a rua sem observar se havia algum carro ou não, embora o fizesse e comprovasse a monotonia do local. Ao caminho da parada, admirava cada uma das poucas árvores por que passava. Tão altas, velhas e formosas, como as dos filmes que assistia, com galhos grossos e baixos, copa cheia e tronco quase da largura da calçada.
Quase que em transe com aquela sinfonia silenciosa, eis que surge o primeiro barulho! Um ônibus - seu ônibus - e outro, e mais outro. Aquelas enormes máquinas móveis pareciam grandes feras dóceis em um mundo inerte de concreto. Olhou-os por um tempo e sorrio, imaginando os inúmeros lugares e as incontáveis histórias por onde aqueles e os outros que vinham já haviam presenciado - e também, de maneira irônica, por ter perdido seu ônibus.
De repente, um vento frio toca seu rosto, forçando-o a fechar os olhos por causa dos grãos de areia que soprava.
-Atchin!
Sem entender o motivo do espirro, ja que não estava gripado e nem a constante coriza o perseguira nesse dia, pegou o lenço do bolso e passou no nariz coçando-o, como de costume, para evitar que espirrasse novamente.
Após guardar o lenço, deu um sorriso torto, olhou para os lados - ato que ja se tornava necessário - e, após os carros passarem, cruzou a larga rua olhando para o céu em busca da lua, mesmo sabendo que era cedo demais para esta esta lá. Seguiu seu caminho, não mais admirando as grandes e velhas arvores, mas as muitas plantas que cresciam nas faixadas dos prédios antigos e abandonados, quase em ruínas, ao seu lado.
Mal se deu conta, já estava quase na parada. Ao chegar no final da calçada, o sinal fechou. Dessa vez, cruzou a rua olhando para o lado, não a fim de tomar cuidado com o fluxo de carros, mas para ver o horizonte acima do teto baixo da estação de trem, que se encontrava em uma área menos elevada, ao lado do rio.
Após mais alguns metros, chegou ao seu destino. Encostou-se em uma das colunas que sustentavam os tetos das paradas e esperou o ônibus, enquanto olhava para as pessoas que estavam no local e para a praça à sua frente.
Bom dia; Boa tarde; Boa noite;